DIREÇÃO: Pier Paolo Pasolini;
ANO: 1975;
GÊNEROS: Drama e Terror;
NACIONALIDADE: França e Itália;
IDIOMA: italiano;
ROTEIRO: Pier Paolo Pasolini, Sergio Citti, Roland Barthes, Maurice Blanchot, Pierre Klossowski e Pupi Avati;
BASEADO EM: livro "Salo Ou Les 120 Journées De Sodome" de Marquês de Sade;
PRINCIPAIS ATORES: Paolo Bonacelli (Duque); Giorgio Cataldi (Bispo); Umberto Paolo Quintavalle (Magistrado); Aldo Valletti (Presidente); Caterina Boratto (Senhora Castelli); Elsa De Giorgi (Senhora Maggi); Hélène Surgère (Senhora Vaccari); Sonia Saviange (Pianista); Franco Merli (Vítima Masculina); Renata Moar (Vítima Feminina); Ines Pellegrini (Escrava); Rinaldo Missaglia (Guarda); Giuseppe Patruno (Guarda); Guido Galletti (Guarda); Efisio Etzi (Guarda).
SINOPSE: "Baseado livremente em histórias de Marquês de Sade ('Círculo de Manias', 'Círculo da Merda' e 'Círculo do Sangue'), a história se passa na província italiana de Saló no norte de Itália que estava controlada pelos nazistas em 1941, onde quatro dignatários reúnem dezesseis exemplares perfeitos de jovens levando-os para um palácio perto de Marzabotto juntamente com guardas, criados e garanhões. A partir daí, eles passam a ser usados como fonte de prazer, masoquismo e morte. Além deles, há quatro mulheres de meia-idade: três delas contam histórias provocantes enquanto a quarta os acompanha ao piano." (O Teatro Da Vida).
"Assistir, ver e comentar o filme, é sinônimo de visitarmos lugares dentro de nós onde não gostamos de ir, preferimos ignorá-los, pois nos faz ter contato e refletir sobre situações constrangedoras, rudes, perversas, repugnantes e não humanas. O filme nos força a enxergar e analisar paralelos com a religião, por exemplo, quando insere um bispo como um personagem da trama, nos mostrando que a submissão aos religiosos podem ser cegas e perversas muita vezes. Também nos traz a tona a imparcialidade e a corrupção da justiça e da política, representada pelo magistrado e pelo presidente, além superioridade e da indiferença da "alta classe", representado pelo duque. Mas qualquer abordagem que se faça que não seja a respeito da degradação humana, acaba sendo no mínimo, uma brincadeira de mal gosto com aqueles que um dia passaram por isso, nos idos anos de 1940, quando a brutalidade e falta de respeito para com o ser humano chegaram ao ápice na história da humanidade, com o fascismo, e talvez muito pior, com o nazismo. O filme, em todo momento, nos faz ter nojo, repulsa, pena, raiva, indignação, etc. ao ver cenas de escatologia, humilhação, submissão, maltrato físico e mental. É um filme perturbador e chocante, pela clareza e falta de vergonha, medo, e pela audácia e coragem do Paolo Pasolini, em transformar a ideia do Marques de Sade em um filme realista sobre o lado obscuro e devasso da mente humana. Mas também poderíamos imaginar que o filme teve como base o tríptico 'O Jardim das Delícias Terrenas' de Hieronymus Bosch, onde retrata na parte central o paraíso recoberto de corpos nús e celebrando os prazeres da carne, sem sentimento de culpa, ressaltando a preposição cristã dizendo que entre o bem e o mal mora o pecado, a luxúria e a passagem etérea do gozo e do prazer. O que também surpreende é como há pessoas com todo tipo de perversão, e podemos classificar também como tal, pela forma como é apresentada, a submissão das vítimas, algumas até sentindo prazer em estar naquela posição, e passando por situação inadmissíveis à maioria. Outro ponto interessante que foi retratado com bastante sutileza por Pasolini é o fato de o preconceito racial ser muito maior e mais forte que outros tipos de preconceitos, como: ideológicos, sexuais ou religiosos. Afinal, a única pessoa negra do filme é a clássica "empregada", que nesse contexto de falta de pudor e limite, não houve a necessidade dos poderosos de terem recrutados garotos e garotas negras, pois como eles mesmos dizem, aquelas vítimas brancas são a representação da melhor e mais pura beleza humana, representando o preconceito racial embutido nas escolhas. A qualidade e o profissionalismo do elenco merecem todo o nosso reconhecimento e aplausos, por um único motivo: fazer um filme com esse contexto, sendo obra de ficção, mas parecendo que suas atuações foram momentos reais de suas vidas, é algo muito complicado, pois estão interpretando e tendo contato com o lado negro da mente humana, e a possibilidade de não parecer real fica ainda mais latente nessas situações, e ainda assim, conseguiram fazer com que acreditássemos que tudo era a realidade, como se fosse uma notícia passada em telejornal."
(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Jonathan Pereira
"Porque este filme merece ser assistido? Por que: é o filme mais perturbador da história do cinema (como concordam diversos críticos); seu diretor morreu, possivelmente, por conta das corajosas ideias que o geraram; pela demonstração de como o poder age (seja proveniente do governo, do clero ou do magistrado) e de como os grupos de pessoas se comportam perante ele; mostra o limite da perversão com a psicopatia; contém várias perversões e/ou fetiches à flor da pele: sadismo, masoquismo, coprofilia, exibicionismo, voyerismo...; causou repulsa da sociedade, que o colocou no exílio por anos; ótimo estudo para a fixação nas diversas fases do desenvolvimento psicossexual: oral, anal, edipiano... (mas não poderia ser exibido na universidade por conta das pessoas mais contidas que não se sentiriam bem com seus instintos mais primitivos saltando para fora...); e demonstra as relações com figuras de autoridade variadas, neste contexto todo, como por exemplo: o presidente, o bispo, o pai, o juiz e o marido. Divirta-se... se puder!"
(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Kleber Godoy
Para entender o que são os 1001 Filmes, acesse a página explicativa.
Para entender a dinâmica do 'O Teatro Da Vida' visite a página sobre o blog.
Oi, Jonathan. Só vi seu comentário hoje, dois dias depois. Então, achei engraçado "sem valor de juízo"? rs Você pode pôr o link do meu blog no seu sim, mas eu mudei o endereço. Estou criando uma proposta conjunta com uma amiga de escrever textos reflexivos sobre costumes, política, economia e cultura. Ficou http://distincaocultural.blogspot.com/ - fica à vontade para me linkar, acho que vou linkar vocês também, abraços.
ResponderExcluirEsse filme realmente mereçe ser visto, foi muito bem feito, mas é um dos mais pertubadores que já asisti, me incomodou muito te-lo visto.
ResponderExcluirPode sim colocar o link no seu blog, caso queira é só passar o seu que coloco no meu também, te sigo também, grande abraço.
Ed.
Assisti esse filme há cerca de dois anos atrás. Acredito estar muito mais preparado hoje para assisti-los, mas me falta coragem. Não contesto a tecnica do filme, porém ele é MUITO pesado. Não no sentido sexual ou psicológico, mas no sentido catalisador.
ResponderExcluirLogo, acabo divergindo com a opinião do Jhonatan sobre degradação humana. A que ele refere-se como degradação humana ou situações não-humanas? O escatólogico é pejorativo e interpretativo. TUDO o que acontece no filme É HUMANO. Até o ato de comer cocô é humano numa indireta analogia a Freud. Ou uma ligação a fetishes sexuais...
Enfim, ótima crítica, meninos.
Estou com este DVD na minha cômoda, e em breve, devo vê-lo. Já vi outros filmes do Pasolini, como Medea e Teorema, e o cara tem uma forma muito incisiva e particular de criticar alguns conceitos que damos como corretos e universais. Enfim, depois do que li, fiquei mais ansioso por esse novo Pasolini, é apenas uma questão de tempo até vê-lo.
ResponderExcluirAbraço,
Rodrigo.