19 junho 2012

Mais Saúde + Você: Psicoterapia Para O Melhor Viver

Por Kleber Godoy

Nesta seção, como já destacamos no post explicativo sobre seus objetivos, o assunto é sério: saúde. Um tema abrangente, que envolve diversas ciências e, principalmente, a vida de cada um de nós. Assim, buscando criar um espaço para pensar o que podemos fazer para contribuir neste quesito, a cada mês um tema diferente é lançado aqui: hoje falaremos sobre Psicoterapia! É um assunto tão abrangente quanto a própria área da saúde. Ao questionar as pessoas sobre o tema podemos ouvir de tudo, desde que é ótimo ir a um psicólogo até que é completamente dispensável. Vamos tentar clarear um pouco estas opiniões e o porquê delas? A primeira parte deste texto vai mostrar três notícias retiradas da internet ou de revistas da área de Psicologia, abordando os seguintes assuntos: 1) o tempo de duração de um tratamento psicoterápico; 2) os benefícios da psicoterapia para a mudança nas conexões neurais; e 3) a cura da homossexualidade por alguns psicólogos. Após a exposição destas interessantes reportagens que selecionamos para você, segue a proposta de uma reflexão.



PSICOTERAPIA DEVE TER METAS E NÃO SE ESTENDER POR ANOS

Terapeuta dos EUA causa polêmica ao defender que a maioria dos pacientes precisa só de poucas semanas de tratamento e que terapia deve ter objetivos para não ser um "desabafo". Há 15 dias, o psicoterapeuta americano Jonathan Alpert mexeu com os brios dos colegas ao publicar um artigo no "New York Times" em que questionava a eficácia de tratamentos de longo prazo.

Citava um estudo de 2010 no "American Journal of Psychiatric" para dizer que só 10% dos pacientes fazem mais de 20 sessões e um de 2006 no "Journal of Consulting and Clinical Psychology" para afirmar que o progresso cai de 88% para 62% após a 12ª sessão. Culpava os pares. A resposta, diz, veio numa avalanche de e-mails tanto mandando-o para o inferno como elogiando por contestar algo pouco questionado.

Artigos contra e a favor se multiplicaram, cartas de psicanalistas chegaram ao "Times" pedindo cuidado com generalizações e a lista de clientes do psicólogo que atende em Nova York e acaba de lançar "Be Fearless - Change Your Life in 28 Days" (Seja destemido - mude sua vida em 28 dias, que sai no Brasil no fim do ano) cresceu. Mas ele nega que ofereça solução mágica, como acusam os críticos que viram no artigo uma autopromoção.

Sua defesa, diz, é de uma terapia que mostre resultado, em que paciente e analista tracem metas e que não sirva apenas "para desabafar". "Pela minha experiência, a maioria busca ajuda para questões menores e tratáveis: insatisfação no trabalho ou no relacionamento. Não é preciso anos de terapia para isso."

FONTE: Instituto Humanitas Unisinos, 08 maio 2012



OLHAR DO BLOGeste artigo é bastante provocador para a área: quanto tempo deve durar um processo psicoterápico? O psicólogo americano diz que deve ter duração limitada, de poucas sessões e sem enrolação, obtendo assim, respostas raivosas de seus parceiros. Sobre este assunto, baseado em minha atuação profissional, posso dizer que o colega foi um tanto quanto precipitado em suas convicções, pois generalizou toda uma área do conhecimento que é muito abrangente. Posso afirmar ainda que a psicoterapia não tem uma data de término, não dá para se prever quanto tempo irá durar a 'conversa' com meu paciente sobre suas questões. Ao iniciar a terapia o paciente traz uma questão principal e uma ou duas questões secundárias. Conforme as semanas vão passando, o número de perguntas cresce e as respostas vem aos poucos, tanto para mim quanto para eles, seguindo uma lógica que não é a do tempo cronológico, pois a vida é complexa e um ponto se conecta a diversos outros. Neste sentido, depende de diversos fatores: a velocidade em que as mudanças ocorrem, passando pela gravidade do caso, pela personalidade do profissional, pela abordagem de trabalho do profissional, pelas características pessoais que o paciente tem e, também, pela rede de relações afetivas que ela traz (no sentido de que é importante saber o quanto de suporte emocional existe na vida desta pessoa que chega a mim). Há ainda os diversos tipos de psicoterapia, sendo que a Psicoterapia Breve, que se aproxima do discurso do psicólogo da reportagem, realmente dura poucas sessões, pois foca-se em um ponto dos vários que necessitariam de atenção. Em outra extremidade encontramos a Psicoterapia Psicanalítica, que tende a fazer uma análise existencial do paciente e tende a ter uma duração prolongada por muitos anos, dependendo da linha de trabalho adotada pelo profissional. Logo, dependendo do entrelaçamento de todos estes fatores, a psicoterapia pode sim durar alguns anos. No entanto, concordo com o colega quando diz que a psicoterapia deve ter metas, mas também sem rigidez, pois os objetivos do meu paciente e os meus objetivos podem não ser os mesmos, convergindo ou divergindo com o passar das semanas, mas buscando sempre a melhora da condição inicial (a estagnação da condição do paciente com o passar dos meses pode sim indicar um profissional de pouca qualidade). Ultimamente, posso dizer que tenho recebido pacientes que já passaram por análises, mas estas foram mal terminadas, com pontos em aberto, que agora estão agravados pelo tempo e pelas relações que estabeleceram no intervalo entre os tratamentos. É muito perigoso movimentar as coisas dentro de uma pessoa e soltá-la na vida, sem fechar algumas feridas que se abriram ali dentro do consultório.

Kleber Godoy*



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CURA PELA PALAVRA
Neuroimagens mostram que a psicoterapia pode reorganizar circuitos neurais

Uma das principais críticas às ideias de Sigmund Freud sobre o funcionamento da mente é a suposta ausência de comprovação científica, apesar dos resultados práticos no tratamento do sofrimento psíquico e seus sintomas. No entanto, os avanços na técnica de neuroimageamento têm possibilitado o estudo dos efeitos cerebrais do método da “cura pela palavra”.

Duas pesquisas, da Universidade de Amsterdã e da Universidade de São Paulo (USP), mostram que a psicanálise e a psicoterapia causam alterações em áreas neurais relacionadas à tomada de decisões e ao controle das emoções. Pesquisadores holandeses registraram durante quarto meses a atividade cerebral de 35 voluntários diagnosticados com transtorno de estresse póstraumático (TEPT). Parte deles frequentou sessões de psicanálise e o restante não passou por nenhum tipo de psicoterapia. As imagens revelaram que o grupo que fez o tratamento apresentou maior atividade no córtex pré-frontal. Além disso, os pacientes mostraram-se menos aflitos ao falar sobre suas recordações e relataram menor frequência de pesadelos e pensamentos recorrentes.

O outro estudo, do Instituto de Psicologia da USP, avaliou os resultados da terapia cognitiva (TCC) e obteve dados parecidos. O psicólogo Julio Peres acompanhou por dois meses o tratamento de 16 voluntários com TEPT submetidos a sessões semanais de psicoterapia de exposição e reestruturação cognitiva, que consiste em confrontar o paciente com sua experiência traumática e estimulá-lo a reavaliar o próprio medo.

As neuroimagens registradas ao longo do experimento mostraram que a atividade da amígdala – região relacionada à vigilância, à percepção de ameaça e às emoções – diminuiu em comparação com o grupo de controle, formado por 11 pessoas. Esse experimento indica que o tratamento pode modificar circuitos neurais. Segundo Peres, as alterações concentram-se em áreas relacionadas a dores e dificuldades, o que evidencia o potencial terapêutico da psicoterapia.

FONTE: Mente & Cérebro, 07 fevereiro 2012



OLHAR DO BLOG: a questão da cientificidade da psicoterapia, que é buscada na contemporaneidade por muitos pesquisadores americanos e europeus. Neste sentido, afirmo que a psicoterapia é uma relação que se estabelece entre uma pessoa e outra, com uma teoria e uma filosofia ao fundo, ocasionando uma transformação em sentimentos e pensamentos. Logo, uma relação que promove mudanças precisa de cientificidade? O leitor leigo deve estar atento a notícias deste tipo, pois nem tudo na vida cabe nos métodos da ciência e nem tudo a ciência pode medir e comprovar. O importante na atuação da psicoterapia é haver melhora e promoção da saúde de quem nos procura com o passar do tempo, e isso é comprovado pela prática dos psicólogos. O estudo, muito importante em seus resultados, comprova que a psicoterapia modifica redes neurais, o que vai de encontro com o sentido da psicoterapia: reorganizar pensamentos e sentimentos, modificando relações e tornando as pessoas diferentes.

Kleber Godoy*



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CONSELHO PUNE PSICÓLOGA QUE OFERECIA TERAPIA PARA CURAR HOMOSSEXUALISMO

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) decidiu, nesta sexta-feira (31), aplicar uma censura pública à carioca Rozângela Alves Justino, psicóloga que oferecia terapia para curar o homossexualismo. Ela já havia sido condenada à censura pública no Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro em 2007. Resolução do CFP de 1999 proíbe os psicólogos de tratar a homossexualidade como doença, distúrbio ou perversão e de oferecer qualquer tipo de tratamento.

A terapeuta estava sujeita à suspensão do exercício profissional por 30 dias ou, até mesmo, à cassação do registro. Entretanto, os conselheiros decidiram, por unanimidade, que a censura pública era a medida mais adequada no caso. O advogado Paulo Fernando, contratado pela psicóloga, disse que vai recorrer na Justiça Federal contra a decisão do CFP.

Para Toni Reis, presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais), "a decisão é uma vitória", ainda que parcial. "Foi cumprido o código de ética da profissão", disse.

A ABGLT também fez representação junto ao conselho de ética do CRP do Rio, requerendo a cassação do registro de Rozângela. "Precisamos que essa senhora pare de atuar. Já temos, inclusive, notícias de outros profissionais que têm atuado de mesma forma que ela, principalmente ligados a religiões", apontou Igo Martini, presidente do Centro Paranaense de Cidadania, um das entidades filiadas a ABGLT.

A psicóloga, no entanto, não dá sinais de que parará tão cedo. "Com certeza, vou continuar. Vejo que as pessoas têm direito de procurar esse apoio. É a pessoa que define o quer dentro da psicoterapia. Não sinto vergonha e nunca sentirei de acolher pessoas que querem deixar voluntariamente o estado de homosseuxalidade", afirmou.

Em seu blog na internet, Rozângela, que é evangélica, se diz perseguida pelo Conselho Federal de Psicologia, no que ela chama "Ditadura Gay". Para o julgamento no CFP, ela foi de óculos escuros e máscara, por medo de sofrer represálias nas ruas.

Para Rozângela, as pessoas não são homossexuais, mas "estão" homossexuais. Para defender sua tese, ela cita a classificação da Organização Mundial de Saúde que divide a orientação sexual em bem aceita/assumida pela pessoa (egossintônica) ou mal aceita (egodistônica). "Então, em pessoas cuja homossexualidade seja egodistônica, respeitando a motivação individual para efetuar as mudanças que elas mesmas desejarem, o estado homossexual é passível de mudança", escreve.

Para a militância LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais), tal opinião contribui para o preconceito e a negação do homossexualismo tanto pela pessoa quanto pela família, ao postular que existe cura. "Esse tratamento é charlatanismo, pois tanto OMS quanto o Conselho Internacional de Psiquiatria declaram que o homossexualismo não é doença nem transtorno mental. Mesma coisa dizer que vai curar a Aids", fala Igo. "O sofrimento vem da pessoa não aceitar sua condição, não viver bem consigo mesma. Os homossexuais sofrem ainda mais por conta de profissionais como essa senhora e de religiosos que dizem que isso é pecado. Essa postura contribui para que cada vez mais pessoas não saiam do armário", continua.

FONTE: UOL, 31 julho 2009



OLHAR DO BLOG: o último artigo escolhido traz uma psicóloga que ignora diversos pontos do Código de Ética Profissional do Psicólogo, assim como a própria humanização no tratamento psicoterápico. Neste sentido é necessário esclarecer: a homossexualidade não é doença a ser tratada, não necessitando de uma cura, mas o preconceito sim, necessita de cuidado, atenção e até busca de cura, podemos pensar, não? A pessoa que busca tratamento psicoterápico deve ser respeitada em sua subjetividade em todos os sentidos, desde suas escolhas afetivas até sua religião, sendo que minhas opiniões pessoais ficam fora do tratamento de meu paciente. Alguns profissionais não levam isso a sério e maldizem toda uma categoria, divulgando com esta prática que a psicologia não funciona e que não pode ajudar. Peço aos leitores que entendam esta minha escolha de artigo para que possam refletir sobre a seguinte questão: há muitos profissionais ruins atuando por ai afora, mas também há muitos ótimos profissionais, sendo que não é porque você ou alguém conhecido se decepcionou com um deles, que deve se generalizar. O cuidado com o pré-conceito (ou preconceito) tem que permear diversos momentos em nosso dia-a-dia, percebe?

Kleber Godoy*



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Assuntos pesados para uma pequena discussão, não? Mas a proposta aqui é de clarear brevemente alguns pequenos pontos e o restante deixar por conta das reflexões do leitor. Assim, os três textos escolhidos por mim colocam questões importantes para iniciar um processo de reestruturação do pensamento dos leitores leigos no assunto sobre a psicoterapia. Há diversas formas de psicoterapia e diversos tipos de profissionais; o tempo para se encontrar caminhos em suas questões pessoais é muito relativo; ao buscar um profissional de psicologia penso que você deve ‘sentir’ o profissional, se ele é responsável, ético, ‘bom’ e se está lhe dando resultados de alguma forma, sendo que se você se sentir sem adaptação tem todo direito de mudar, buscar outra pessoa; a psicoterapia promove o autoconhecimento, muda as redes neurais, mexe com seus sentimentos e pensamentos, é bom fazer; de outro lado, ela promove reflexões existenciais e isso nem sempre traz risos, muitas vezes traz dor, mas uma dor necessária para o desenvolvimento (e isso explica tanta resistência de algumas pessoas à buscarem um psicólogo: o medo desta dor, da mudança de pontos de vista, do movimento...); a eficácia da psicoterapia começa com você. Converse, busque conhecer mais sobre as alternativas que a área de saúde pode te dar para prevenir a doença e promover a saúde... tente conhecer mais sobre você mesmo e quem sabe encontre uma forma de melhor viver e de melhor ser. Afinal, Mais Saúde + Você."

Kleber Godoy*


Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, acorda. (Carl Gustav Jung, psicanalista)


Para entender a dinâmica do 'O Teatro Da Vida' visite a página sobre o blog.





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* Kleber Godoy é graduado em Psicologia pela Universidade São Francisco e pós-graduando em Acupuntura Tradicional Chinesa pela Faculdade Einstein em parceria com a Associação Brasileira de Acupuntura e o Instituto Brasileiro de Acupuntura e Psicologia. Atualmente trabalha com Psicoterapia Psicanalítica, Psicoterapia De Grupo e Orientação Profissional nas cidades de Campinas, Piracaia e São Paulo. Entre em contato pelo correio eletrônico: kleberxgodoy@gmail.com

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