27 fevereiro 2013

Sétima Arte Brasil: Redentor (Cláudio Torres, 2004)

DIREÇÃO: Cláudio Torres;
ANO: 2004;
GÊNEROS: Drama e Fantasia;
ROTEIRO: Elena Soárez, Fernanda Torres e Cláudio Torres;
BASEADO EM: ideia dos roteiristas;
PRINCIPAIS ATORES: Pedro Cardoso (Célio Rocha); Miguel Falabella (Otávio Sabóia); Camila Pitanga (Soninha); Stênio Garcia (Acácio); Fernanda Montenegro (dona Isaura); Fernando Torres (Justo); Jean Pierre Noher (Gutierrez); Enrique Diaz (Moraes); Mauro Mendonça (Noronha); Tony Tornado (Tonelada); Lúcio Mauro (Tísico); Lúcio Andrey (Meio-Kilo); Babu Santana (Júnior); Rogério Fróes (Dr. Soares); Louise Wischermann (Celeste); José Wilker (Dr. Sabóia); Paulo Goulart (ministro); Tonico Pereira (delegado); Guta Stresser (Flávia); Suely Franco (tia de Célio); Fernanda Torres (Isaura jovem), Domingos de Oliveira (Justo jovem), Marcel Miranda (Célio criança) e Guilherme Vieira (Otávio criança).



SINOPSE: "Existem mais coisas entre o céu e a Terra do que supõe a nossa vã filosofia. E Célio Rocha (Pedro Cardoso) é prova tão viva quanto morta disto: repórter de um jornal carioca, ele recebe de Deus a missão de convencer seu amigo de infância, Otávio Sabóia (Miguel Falabella), um corrupto construtor, a doar sua fortuna aos pobres." (Cineclick).


"Um roteiro original, atual e brasileiro. O filme retrata os meandros extra-oficiais das negociações de empresários, governos, mídia, polícia, justiça, e ainda aborda a criminalidade, a impunidade, a pobreza, as diferenças sociais, a religião, enfim, temas brasileiros discutidos em um enredo verdadeiro, claro e doloroso do nosso dia-a-dia. Temas pesados tratados de forma pesada, como merecem ser. Não há espaço para o romantismo, o amor, a verdade, a justiça, a beleza, há apenas espaço para a vida dolorosa, pesada e difícil que os personagens representam, seja um empresário milionário, seja um repórter ou sejam pessoas humildes vivendo na linha da pobreza extrema. Seja criança, adulto ou idoso, todos, envolvidos no clima sombrio e cascudo do filme. Há uma única ressalva, que foge um pouco desse perfil, o personagem de Fernando Torres, onde ainda demonstra algumas características mais puras e sinceras no filme. O elenco completamente separado, mas totalmente competente, sem um destaque, onde todos brilham ao máximo."

(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Jonathan Pereira





"Cláudio Torres, filho de Fernanda Montenegro e Fernando Torres, irmão de Fernanda Torres... uma família de talento para um enredo cheio de conteúdo significativo: combinação perfeita. Isso sem falar em Pedro Cardoso e Miguel Falabella estrelando com maestria seus papéis, junto a outros grandes nomes como Camila Pitanga, Stênio Garcia e Jean Pierre Noher. Intenso, perfeito, cheio de altos e baixos... indo do céu ao inferno em instantes, sendo que até o céu parece infernal e o questionamento sobre deus (e a ele) aparece a todo momento. Afinal, colocam os personagens, se há tanta frustração na vida, sendo tudo obra de de um todo poderoso... será que este olha para mim? Questionamentos existenciais junto a um toque de comédia dramática bem sutil, no meio de alguns diálogos ou olhares, que somente um grupo afinado de atores poderia fazer. Ah, a presença de José Wilker deu o toque que talvez faltasse ao filme. E assim não faltou nada."

(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Kleber Godoy





Para entender a seção 'Sétima Arte Brasil' visite a postagem explicativa.

Para entender a dinâmica do 'O Teatro Da Vida' visite a página sobre o blog.











Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

14 fevereiro 2013

Clodovil: Para Que Ser Coerente Se A Vida É Uma Incoerência

A cada postagem desta sessão homenageamos alguém que fez a diferença em sua vida pública, que de alguma forma tocou os corações e as vidas das pessoas com quem teve contato. Hoje trazemos uma figura um tanto quanto controversa que mostrou durante toda sua vida muita polêmica, talento, arte, cultura e uma personalidade difícil, sendo que tudo isso junto o fez passear pelo palco da vida sendo ator, estilista, cantor, figurinista, apresentador e até mesmo político. Um nome importante, inclusive, para a difusão dos talentos no Brasil no exterior, conhecido internacionalmente por suas criações de vestidos para noivas. Homenageamos hoje, Clodovil Hernandes.


Clodovil Hernandes nasceu em Elisiário, no interior do estado de São Paulo, como o nome de Clodovir Hernández. Era filho adotivo de Domingo Hernández e Isabel Sánchez, um casal de imigrantes espanhóis naturais da região da Andaluzia. Logo após seu nascimento, a família se mudou para Floreal, onde Domingo Hernández se tornou dono de uma loja de tecidos. Clodovil descobriu que não era filho biológico de seus pais adotivos aos onze anos de idade, quando uma tia lhe contou. Segundo ele próprio, a adoção nunca foi um problema, e seus pais morreram sem saber que ele sabia. Ele também jamais soube quem foram seus pais biológicos.

Clodovil sempre teve um relacionamento mais próximo com sua mãe, que foi 'a única mulher que amou em sua vida'. Segundo Clodovil, a mãe não lhe quis quando chegou, porque não queria aquela 'coisa feia'. Felizmente, porém, Isabel aprendeu a amá-lo com o convívio. Clodovil diz que, apesar de nunca ter gostado muito do pai, sempre o respeitou; certo dia, quando lhe respondeu de maneira atravessada, levou um forte tapa na orelha que lhe deixou com um problema de audição. Aos treze anos, Clodovil viu seu pai tendo relações sexuais com outro homem, um cunhado. Clodovil diz que nunca tocou no assunto com o pai, o qual morreu sem saber que ele viu a cena. Por causa desse episódio, Clodovil disse que 'deveu o norte de sua vida' a seu pai.

Clodovil aos 5 anos de idade com os pais adotivos

Clodovil aos 15 anos
'Mas devo o norte da minha vida ao meu pai, apesar de eu nunca ter gostado muito dele. Digo isso porque a primeira vez que vi um homem com outro foi o meu pai. Eu tinha treze anos. E nunca desrespeitei o meu pai.' (Clodovil)

O interesse de Clodovil por moda começou ainda criança, quando ele dava palpites de vestuário para a mãe, as tias e as primas, escondido do pai, que não podia saber. Quando estava estudando em um colégio interno católico, recebeu o apelido de 'Jacques Fath', um costureiro francês famoso da época. No último ano do normal, aos dezesseis anos, uma colega lhe perguntou por que não desenhava vestidos, embora Clodovil nem sequer conhecesse essa profissão. Pegou então uma página de caderno e desenhou onze vestidos. Numa loja do centro de São Paulo, vendeu seis desses. Diz que ganhou mais dinheiro do que a mesada que o pai lhe mandava, e iniciou assim sua trajetória na moda. Desistiu então da Faculdade De Filosofia e, em 1960, conquistou seu primeiro Prêmio Agulha De Ouro. Com talento, ele conquistou clientes da alta sociedade de São Paulo. Na época também começou a chamar atenção a 'rivalidade' de Clodovil com Dener Pamplona de Abreu, outro estilista conhecido da época. Na realidade, eles eram mais amigos e colegas de profissão do que competidores.



O talento de Clodovil para a moda foi reconhecido por mulheres de variadas origens sociais, desde artistas como Elis Regina e Cacilda Becker a empresárias como Hebe Alves (antiga proprietária das lojas Mappin) e às famílias Diniz e Matarazzo. Pioneiro, por anos seria um dos pilares da alta-costura, numa sociedade que importava modelos europeus, inaugurou uma moda made in brazil. Segundo Constanza Pascolato, 'Esse termo [alta-costura] cabe especificamente às coleções de Paris. Podemos dizer que o Clô fez uma 'moda de ateliê' muito requintada e luxuosa, destinada a ocasiões específicas, como casamentos e coquetéis', define.

Clodovil formou-se professor, mas ainda jovem se tornou um estilista conhecido no país e logo passou a trabalhar também na televisão, na qual acumulou mais de 45 anos de carreira em quase todas as emissoras de televisão do país. Ficou famoso em 1976, ao ganhar o prêmio máximo no programa 8 ou 800?, apresentado por Paulo Gracindo, ao responder perguntas sobre Dona Beja.

No início dos anos 80, apresentou na Rede Globo o programa feminino TV Mulher, considerado revolucionário na época, ao lado da então sexóloga Marta Suplicy. Em 1992, apresentou o programa Clodovil Abre O Jogo da extinta Rede Manchete. Clodovil foi também premiado figurinista de teatro, além de ter trabalhado como ator. Possuía registro como cantor.

Dener e Clodovil
Em maio de 2001, Clodovil estreou no comando do programa Mulheres da TV Gazeta, ao lado de Christina Rocha. Polêmico como sempre, Clodovil fazia críticas à colega, ao vivo. Após alguns meses, a parceria foi desfeita, e Clodovil passou a comandar um talk-show nas noites da TV Gazeta, durante as quais preparava receitas para receber seus convidados e tratava de temas polêmicos.

A despeito da vida de 'glamour' e fama, fazia questão de demonstrar sua espiritualidade e sempre evidenciar o amor recíproco entre ele e seu grande amor, citando Deus de forma recorrente nos diálogos e entrevistas: 'Eu não sou briguento. Como eu poderia ser? Eu sou temente a Deus.'

'Talento eu tenho, e isso ninguém me tira!' (Clodovil)

Em 2004, já na RedeTV!, passou por uma fase polêmica devido ao desentendimento com integrantes do programa Pânico Na TV. Um dos quadros do programa propunha que personalidades consideradas arrogantes pela equipe calçassem as 'sandálias da humildade', e em certo momento Clodovil tornou-se o alvo dos humoristas. O apresentador se esquivou de duas investidas dos repórteres do Pânico. Na terceira tentativa, foi perseguido por dois carros, um helicóptero e um trio elétrico. Seguido desde os estúdios da emissora, em Barueri, na Grande São Paulo, o veículo do apresentador foi fechado no meio da Marginal Pinheiros, e acabou por escapar.



No dia seguinte à apresentação de todo o incidente no Pânico, Clodovil fez um desabafo ao vivo em seu próprio programa, A Casa É Sua, que apresentava desde 2003. Seu programa passou a ser gravado. Meses depois, ao criticar uma apresentadora da casa pelo modo que aparecera vestida em uma festa, foi demitido. Em abril de 2007, Clodovil voltou à televisão com o programa Por Excelência, na TV JB (o nome do programa faz referência à sua então condição de deputado federal). Pediu demissão por causa de alguns problemas de saúde.

Em 2004, durante o programa A Casa É Sua, Clodovil chamou a vereadora Claudete Alves de 'macaca de tailleur metida a besta'. A vereadora entrou com uma queixa-crime e o apresentador respondeu por dois processos criminais no Tribunal de Justiça de São Paulo. Clodovil alegou em sua defesa que a palavra 'macaca' foi usada com o intuito de demonstrar que a vereadora 'gostava de aparecer', e não com conotação racista. O apresentador, porém, foi condenado a pagar indenização por danos morais.

Em uma entrevista à Rádio Tupi, em 27 de outubro de 2006, Clodovil declarou que os judeus teriam manipulado o Holocausto e forjado o atentado de 11 de setembro contra o World Trade Center. Na mesma entrevista, referiu-se a um negro como 'crioulo cheio de complexo'. Para suportar suas opiniões, disse à rádio carioca que existe um 'poder escuso, que está no subsolo das coisas'. Segundo o apresentador, 'As pessoas são induzidas a acreditar. Quando houve aquele incidente com as torres gêmeas lá não tinha americano nenhum e nem judeu.'


O presidente da Federação Israelita do Rio, Osias Wurman, declarou-se indignado com as declarações, sobretudo por virem de uma pessoa advinda de uma minoria que também sofre preconceito. Wurman entrou com uma interpelação judicial contra Clodovil, acusando-o de racista, além de enviar cópias do áudio da entrevista à Secretaria Estadual de Direitos Humanos, a deputados estaduais e a organizações não-governamentais ligadas ao movimento negro.

Em 2007, envolveu-se em nova polêmica no Congresso, após discutir com a deputada Cida Diogo, do PT do Rio de Janeiro. A discussão iniciou por conta das declarações de Clodovil de que 'as mulheres ficaram muito ordinárias, ficaram vulgares, cheias de silicone' e ainda que atualmente 'as mulheres trabalham deitadas e descansam em pé.' Ao ser questionado pela deputada quanto à declaração, respondeu: 'Digamos que uma moça bonita se ofendesse porque ela pode se prostituir. Não é o seu caso. A senhora é uma mulher feia'.

Em 2006 entrou para a política após candidatar-se e eleger-se deputado federal pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC), possuindo inclusive o terceiro maior número de votos em São Paulo, estado por onde se candidatou. Usou bastante ironia em sua campanha, como a frase: 'Vocês acham que eu sou passivo? Pisa no meu calo para você ver…' Tornou-se então o primeiro homossexual assumido a ser eleito deputado federal. Apesar disso, declarava-se contra a Parada Do Orgulho GLBT, o casamento gay e o movimento homossexual brasileiro.


'Eu vivo apaixonado por alguma coisa que eu não sei o que é' (Clodovil)

Em setembro de 2007 o deputado decidiu trocar de partido e filiou-se ao Partido da República (PR), correndo desde então o risco de perder o mandato por infidelidade partidária. No entanto, em 12 de março de 2009, foi absolvido por unanimidade dos votos, Clodovil deixou o partido alegando ter sido abandonado pela legenda desde a eleição, quando não recebeu material de campanha, e posteriormente, quando não recebeu assessoria jurídica do partido. Devido a isso, os ministros do TSE concordaram que houve perseguição interna, uma das condições que permitem que o parlamentar troque de legenda.


Mesmo com sua vida atribulada e curta, teve tempo para propor, ter aprovação de alguns. Em julho de 2008, apresentou proposta de emenda constitucional pretendendo reduzir o número de deputados de 513 para 250. Em 27 de março de 2009, dez dias depois da sua morte, três de seus projetos foram aprovados na Comissão de Constituição e Justiça: 1) a obrigatoriedade das escolas divulgarem a lista de material escolar 45 dias antes da data final para a matrícula; 2) a criação do Dia da Mãe Adotiva, uma homenagem à sua mãe adotiva Isabel Hernandes, e; 3) a obrigatoriedade da menção dos nomes dos dubladores nos créditos das obras audiovisuais dos quais eles tenham participado.

Clodovil Hernandes morreu em 17 de março de 2009, após ser registrada sua morte cerebral causada por um acidente vascular cerebral (AVC). O velório ocorreu no Salão Nobre da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e o sepultamento teve lugar no dia seguinte à morte no Cemitério do Morumbi na capital paulista, onde já se encontravam os restos mortais de sua mãe adotiva.


O estilista, apresentador e político Clodovil Hernandes foi homenageado com um memorial em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, onde viveu por décadas. O espaço, com dezenas de objetos e mobílias do luxuoso casarão que ele possuía na região, foi inaugurado em novembro de 2009. Por outro lado, a mansão de Clodovil, com mais de 30 cômodos, e que ostentava uma decoração milionária, está vazia. 'Não tem mais nem um banquinho para sentar se você precisar', lamenta o amigo e fiel escudeiro, João Toledo. Foi dele a ideia de montar o espaço em homenagem ao amigo. O dinheiro, entretanto, saiu do bolso dos empresários Mauricio Abraão e Eugenio Camargo, proprietários da Pousada Cavalo Marinho, que sedia o memorial.

'Os bens de Clô estavam se dizimando', explica Toledo. Ele se refere ao leilão realizado em São Paulo dos objetos do apartamento funcional de Brasília. 'Soube de um bazar que seria realizado aqui em Ubatuba e sugeri aos donos da pousada comprar os objetos que ainda restavam para criar esse espaço', conta. O acervo inclui louças personalizadas com o brasão de Clodovil, uma enorme mesa estilo japonesa, um conjunto de pratos da indonésia, e até taças de cristal presenteadas pelo ator Grande Otelo, entre outras peças. O que também não faltou foram histórias sobre o polêmico e ilustre morador de Ubatuba, o deputado com maior número de votos na história da cidade litorânea. Clô foi entrevistado por Antônio Abujamra em seu programa Provocações, exibido pela TV Cultura em 24 de agosto de 2003, divido awui em duas partes:



Abaixo, a lista de programas de TV apresentados por Clô:

1980 a 1982 | TV Mulher | Rede Globo

1983 | Clodovil | Rede Bandeirantes

1983 a 1985 | Manchete Shopping Show | Rede Manchete

1985 a 1988 | Clô Para Os Íntimos | Rede Manchete

1991 a 1993 | Clodovil Abre O Jogo | Rede Manchete

1993 a 1994 | Clodovil Frente E Verso | CNT

1993 a 1994 | Clodovil Em Noite De Gala | CNT

1995 a 1996 | Retratos | CNT

1998 | Clodovil Soft | Rede Bandeirantes

1999 | Clodovil | Rede Mulher

2001 | Clodovil Frente E Verso | CNT

2001 a 2002 | Mulheres | Rede Gazeta

2002 | Clodovil | Rede Gazeta

2003 a 2005 | A Casa É Sua | RedeTV!

2007 | Por Excelência | TV JB




Para entender a dinâmica do 'O Teatro Da Vida' visite a página sobre o blog.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

11 fevereiro 2013

1001 +: O Discurso Do Rei (The King's Speech)

DIREÇÃO: Tom Hooper;
ANO: 2010;
GÊNEROS: Drama;
NACIONALIDADE: Inglaterra;
IDIOMA: ingles;
ROTEIRO: David Seidler;
BASEADO EM: ideia de David Seidler;
PRINCIPAIS ATORES: Colin Firth (Príncipe Alberto e Duque de York/Rei Jorge VI); Geoffrey Rush (Lionel Logue); Helena Bonham Carter (Elizabeth, Duquesa de York/Rainha Elizabeth); Guy Pearce (David, Príncipe de Gales/Rei Eduardo VIII); Timothy Spall (Winston Churchill); Derek Jacobi (Arcebispo Cosmo Lang); Jennifer Ehle (Myrtle Logue); Michael Gambon (Rei Jorge V); Anthony Andrews (Stanley Baldwin); Eve Best (Wallis Simpson); Freya Wilson (Princesa Elizabeth); Ramona Marquez (Princesa Margarida) e Claire Bloom (Rainha Maria de Teck).




SINOPSE: "O filme conta a história do rei Jorge VI, que contrata Lionel Logue, um fonoaudiólogo, para lhe ajudar a superar a gagueira. Os dois homens tornam-se amigos enquanto trabalham juntos e, depois que seu irmão abdica, o rei confia em Logue para ajudá-lo a fazer um importante discurso no rádio no começo da Segunda Guerra Mundial." (wikipedia)


"Um filme de agradecimento de um plebeu ao seu Rei, afinal, David Seidler, o roteirista do filme, estava ouvindo o 'O Discurso Do Rei', e ao perceber que seu Rei havia se curado de sua gagueira, criou forças para que ele próprio buscasse uma ajuda, então, Seidler foi até a Rainha Eliabezath pedir a permissão para representar a história de seu marido, e teve o aval, com uma condição: que o enredo fosse apresentado após sua morte. Depois dessa curiosidade, voltemos ao filme. A atuação de Colin Firth é pontual como a pontualidade inglesa do chá das 5, conseguiu demonstrar na expressão facial e no olhar a angústia de seu personagem. Oscar merecido, mesmo não tendo assistido a todos os outros concorrentes. Mas a atuação de Geoffrey Rush é ainda melhor, talvez pela sua dicção perfeita, brincadeira (risos). O filme como um todo é ótimo, mas tendo como concorrente 'A Origem (Inception, Christopher Nolan, 2010)' não deveria ter levado o prêmio. Atuações excelentes, enredo bom, fotografia impecável, trilha sonora boa, no geral, não foi o melhor do ano. Mas merecia um Oscar honorário para apenas uma parte do enredo, que poderia ser o todo, a amizade límpida, direta, verdadeira, profunda, emocional e vital de um Rei e de seu súdito, amizades que possibilitam o amigo plebeu sentar no trono do amigo Rei, excepcional esse recorte. Assim como Van Gogh, Mozart ou Pelé, é possível ser um ícone na sua área profissional sem ter um título acadêmico, e esse detalhe também é interessante de ser ressaltado. Não importa, ser plebeu ou Rei, haverão pontos em comum, tanto os bons quantos os ruins, e ter a coragem de trazer um problema mundialmente difundido, e pouco explorado, para a telona, e o levar a ganhar o maior prêmio do cinema, tem seu importante papel social ajudando milhares de gagos a serem homens e mulheres mais fortes e confiantes, como diz Lionel: 'Sim, você tem voz! Você tem muita perseverança Bertie, é o homem mais corajoso que conheço'."

(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Jonathan Pereira





"Emocionante, belo, bem produzido, com excelentes atores e roteiro que é, além de bem construído, muito significativo, contando parte de uma história de amizade e superação, uma história real dos bastidores da Realeza. Para o roteiro contamos com David Seidler, e para a direção, com o jovem londrino Tom Hooper. Combinação perfeita nos bastidores, criando esta atmosfera de filme britânico que adoro nestas obras locais, me fazendo lembrar daquele clima da série Harry Potter, a qual muitos dos atores deste filme também fizeram parte. Logo, no elenco contamos com grandes nomes como Michael Gambon (interpretando o Rei Jorge V), Timothy Spall (fantástico ator inglês, interpretando pela segunda vez o personagem histórico Winston Churchill) e Helena Bonham Carter, que interpreta a Duquesa de York/Rainha Elizabeth, com aquele toque cômico que só ela sabe dar, além de ser uma esposa carinhosa e dedicada até as últimas consequências. Aliás, o papel desta mulher é decisivo para todo desenrolar da história – quando até mesmo o rei havia desistido, ela não descansava. E é claro que devo destacar Geoffrey Roy Rush, ator australiano brilhante que neste filme é o terapeuta Lionel Logue, já tendo provado sua capacidade anteriormente como Capitão Hector Barbossa na série 'Piratas do Caribe (Pirates Of The Caribbean)'. Junto a ele vemos Jorge VI do Reino Unido, o nosso rei gago, interpretado por Colin Firth, merecendo o Oscar de melhor ator que ganhou por este papel. Fiz esta introdução falando dos atores, pois tem uma categoria no Screen Actors Guild, prêmio dado pelo sindicato americano de atores, que eu gosto muito, a de 'Melhor Performance De Um Elenco Em Filme', o qual 'O Discurso Do Rei' venceu, mostrando este entrosamento do elenco: tudo nos conformes à moda britânica. Este filme tem diversas curiosidades, como a inserção de diversas falas terem sido retiradas do diário do terapeuta, descoberto poucas semanas antes das filmagens, dando maior realidade à história (e maior trabalho à produção, para refazer algumas falas). A história tem pontos muito significativos, que emocionam o espectador, através do contato terapêutico, desta relação de ajuda que se forma, entre o rei e seu terapeuta que, em muitos momentos é muito parecida com a relação que acontece entre psicólogo e seu paciente. Logue impõe diversas regras ao seu ilustre paciente o fazendo deixar as barreiras de lado e aderir a um tratamento pouco ortodoxo no qual o importante era a confiança. Logo no primeiro encontro dos dois, o rei pergunta: 'Não vai começar o tratamento, Dr. Logue?', no que o 'Dr.' responde: 'Só se estiver interessado em ser tratado'. Logo, passa a responsabilidade questionando o quanto ele deseja esta cura ou se esconde atrás dela. O simbolismo existente se concretiza: o rei precisa de voz e tem voz... precisando se conscientizar disso e ultrapassar as barreiras que o impedem de falar. Neste sentido entram conflitos familiares, questões de hierarquia e toda uma legião de súditos esperando muito de seu representante, talvez mais do que ele acredite poder dar. Logo, o terapeuta-ator, vê e atua em todos os pontos necessários além da mecânica da voz. Há cenas brilhantes no roteiro e destaco uma delas, a mais notável: no discurso de guerra que Jorge faz há Beethoven de fundo e o terapeuta a reger seu paciente, uma cena que fica para a história do cinema mundial pela sua beleza estética e grande carga de sentimento, mostrando dois dramas, sendo um mundial e outro pessoal e familiar! No mais, não que os prêmios sejam tão importantes assim, mas ajudam a conferir aos filmes um lugar na história e, neste sentido, concorrendo com outros grandes filmes, alguns já comentados aqui por nós, venceu 4 Oscars: filme, diretor, ator e roteiro original. Um sucesso!"

(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Kleber Godoy





Para entender o que são os '1001 Filmes', acesse a página explicativa.

Para entender a dinâmica do 'O Teatro Da Vida' visite a página sobre o blog.





















Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

07 fevereiro 2013

Mitos E Lendas: A Primeira Mulher

Por Kleber Godoy e Francisco Morais

Iniciamos esta nova seção com Eros, Psiquê e o amor proibido entre eles, um mito retirado da Mitologia Grega. Hoje falaremos sobre a questão da mulher, colocando alguns questionamentos interessantes: o que significa 'mulher'? Quem foi a primeira mulher? Qual o sentido do feminino? Quais mitos e lendas falam sobre a criação do sexo feminino? Para isso vamos passear da Mitologia Grega até a Bíblia. 




INTRODUZINDO O TEMA

Segundo o Wikipedia, Mulher vem do Latim 'muliere', sendo 'um ser humano adulto do sexo feminino'. Simples assim. A enciclopédia ainda fala que ela pode ser chamada de menina ou moça, antes da vida adulta. As distinções quanto ao sexo oposto surgem para definir papéis sociais e culturais, englobando o sexo, o trabalho, a vida conjugal, o jurídico, etc. Até aqui tudo bem e simples, mas... e os mitos?

Portanto, seguem trechos de textos esclarecendo (e confundindo) algumas questões acerca do tema, deixando as coisas um pouco menos simples. Separei os minitextos com títulos para facilitar a organização. Ao final, uma inovação em nosso blog, um autor convidado coloca suas reflexões e questões de forma muito interessante. Francisco Morais, psicólogo atuante com abordagem psicanalítica e sempre muito intenso, imparcial e coerente em seus comentários, deixa sua marca aqui no O Teatro Da Vida, atendendo a meu pedido de falar algo neste caminho todo cheio de pedras e atalhos e obstáculos e desníveis, no qual caminha a humanidade e, neste caso, a mulher, dentro de cada ser humano. Preparados?



O MITO DE EVA

Segundo a Bíblia, a mulher foi feita a partir de uma costela de Adão, significando, com isso, que ela é a companheira, ou seja, está ao seu lado, tal qual as costelas. O osso da costela alude à igualdade entre homem e mulher, dado que não foi utilizado um osso inferior (um osso do pé, por exemplo), nem um osso superior (do crânio, por exemplo), mas sim um osso do lado. Outra interpretação, em sintonia com a primeira, lembra que a mulher é protetora da vida, dado que os ossos da costela protegem o coração.

Eva



UMA MULHER ANTES DE EVA?

Lilith é um demônio feminino da mitologia Babilônica que habitava lugares desertos. Esta é referida em diversos textos antigos sendo o mais notável o Antigo Testamento da Bíblia.

Lilith é também referida na Cabala como a primeira mulher do bíblico Adão, sendo que em uma passagem ela é acusada de ser a serpente que levou Eva a comer o fruto proibido. Esta afirmação de que Lilith foi a predecessora de Eva, no entanto, surge apenas pela primeira vez no Alfabeto de Ben-Sira composto por volta do Século VII, sendo que nunca antes havido existido esta conexão a Adão e Eva nem tão pouco à Criação.

No primeiro capítulo do Livro de Gênesis, versículo 27, está escrito que: 'Deus criou o homem à sua imagem e semelhança; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher." porém no segundo capítulo, versículo 18: '"O Senhor Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada." E é apenas no versículo 22 do segundo capítulo que Eva é criada: "E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem.' É possível que no primeiro capítulo a mulher criada seja Lilith e levando em consideração o versículo 23: 'Disse então o homem: Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada." podemos verificar na expressão de Adão... esta sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne!...'

A afirmativa de existência de outra criatura que não era qualificada como mulher e que não podia se submeter a ele, pois era independente, estava no mesmo nível de criação, a mesma altura de Adão. Em algumas traduções o texto "esta sim..." aparece como "agora sim, esta ..." o que não parece ser um erro de tradução mas uma evidência da afirmação na narrativa.

Uma interpretação possível é de que ela seja a mulher que Caim encontrou depois de ser expulso e, portanto, tendo com ele seu primeiro filho, Enoquee fundando uma cidade de mesmo nome. Nas traduções recentes da Bíblia a palavra Lilith é substituída por demônio, fantasma ou bruxa do deserto.

Lilith mostrando seu lado bom

Assim, no folclore popular hebreu medieval, ela é tida como a primeira mulher criada por Deus junto com Adão, que o abandonou, partindo do Jardim do Éden por causa de uma disputa sobre igualdade dos sexos, passando depois a ser descrita como um demônio.

De acordo a interpretação da criação humana no Gênesis feita no Alfabeto de Ben-Sira, entre 600 e 1000 d.C, Lilith foi criada por Deus com a mesma matéria prima de Adão, porém ela recusava-se a 'ficar sempre por baixo durante as suas relações sexuais'. Na modernidade, isso levou a popularização da noção de que Lilith foi a primeira mulher a rebelar-se contra o sistema patriarcal e a primeira feminista. Segundo este manuscrito milenar, Ben Sira conta a história de Lilith para Nabucodonosor:

'Depois que Deus criou Adão, que estava sozinho, Ele disse: 'Não é bom que o homem esteja só' (Gênesis 2:18). Ele então criou a mulher para Adão, da terra, como Ele havia criado o próprio Adão, e chamou-a de Lilith. Adão e Lilith imediatamente começaram a brigar. Lilith disse: 'Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual.' Quando reclamou de sua condição a Deus, ele retrucou: 'Eu não vou me deitar abaixo de você, apenas por cima. Pois você está apta apenas para estar na posição inferior, enquanto eu sou um ser superior.' Lilith respondeu: 'Nós somos iguais um ao outro, considerando que ambos fomos criados a partir da terra'. Mas eles não deram ouvidos um ao outro. Quando Lilith percebeu isso, ela pronunciou o Nome Inefável e voou para o ar. Adão permaneceu em oração diante do seu Criador: 'Soberano do universo! A mulher que você me deu fugiu!'. Ao mesmo tempo Deus enviou três anjos para trazê-la de volta.'

Os três anjos foram e insistiram que ela voltasse e ameaçaram afogá-la, porém ela se recusou a voltar, sendo assim condenada por Deus a perder cem filhos por dia. Desde então, para proteger os recém-nascidos da influência de Lilith, seria necessário colocar amuletos com o nome dos 3 anjos (Snvi, Snsvi, and Smnglof), lembrando-a de sua promessa.

Eva teria então sido criada a partir de Adão. Como outra interpretação diz que ela (Lilith) juntou-se aos anjos caídos quando se casou com Samael que tentou Eva ao passo que Lilith tentou a Adão os fazendo cometer adultério. Desde então o homem foi expulso do paraíso e Lilith tentaria destruir a humanidade, filhos do adultério de Adão com Eva, pois mesmo abandonando seu marido ela não aceitava sua segunda mulher. Ela então passou a perseguir os homens, principalmente os adúlteros, crianças e recém casados para se vingar.

Outras histórias referem-se a ela como surgida das trevas ou como um demônio do mar e não como igual ao homem. Infere-se pelos textos e por amuletos medievais que ela era uma superstição comum entre os camponeses. Deixar esculturas dos 3 anjos que a perseguiram para fora do Éden, Sanvi, Sansavi e Samangelaf, protegeria os bebês recém-nascidos (uma proteção necessária por 8 dias para homens e 20 dias para mulheres) e impediria que seus maridos fossem seduzidos por Lilith a cometer adultério.

Lilith mostrando seu lado mau

Nas lendas vampíricas se diz assim: Lilith tinha 100 filhos por dia, súcubus quando mulheres e íncubus quando homens, ou simplesmente lilims. Eles se alimentavam da energia desprendida no ato sexual e de sangue humano. Também podiam manipular os sonhos humanos, seriam os geradores das poluções noturnas. Mas uma vez possuído por uma súcubus, dificilmente um homem saía com vida.

Há certas particularidades interessantes nos ataques de Lilith, como o aperto esmagador sobre o peito, uma vingança por ter sido obrigada a ficar por baixo de Adão, e sua habilidade de cortar o pênis com sua vagina segundo os relatos católicos medievais. Ao mesmo tempo que ela representa a liberdade sexual feminina, também representa a castração masculina.

Na mitologia grega, algumas vezes Lilith é associada com a Deusa grega Hécate, 'A mulher escarlate', uma Deusa que guarda as portas do inferno montada em um enorme cão de três cabeças, Cérbero. Hécate, assim como Lilith, representa na cultura grega a vida noturna e a rebeldia da mulher sobre o homem. Há ainda fontes que colocam Lilith como a fonte da vaidade.



MAIS UMA MULHER QUERENDO SER A PRIMEIRA?

Na mitologia grega, Pandora, 'a que tudo dá', 'a que possui tudo', foi a primeira mulher, criada por Zeus, Deus dos deuses, como punição aos homens pela ousadia do Titã Prometeu de roubar do Olimpo o segredo do fogo para dar aos homens.

Foi a primeira mulher que existiu, criada por Hefesto (deus do fogo, dos metais e da metalurgia) e Atena (deusa da guerra, da civilização, da sabedoria, da arte, da justiça e da habilidade) auxiliados por todos os deuses e sob as ordens de Zeus. Cada um lhe deu uma qualidade. Recebeu de um a graça, de outro a beleza, de outros a persuasão, a inteligência, a paciência, a meiguice, a habilidade na dança e nos trabalhos manuais. Hermes, porém, pôs no seu coração a traição e a mentira. Feita à semelhança das deusas imortais, destinou-a Zeus à espécie humana, como punição por terem os homens recebido de Prometeu o fogo divino. Foi enviada a Epimeteu, a quem Prometeu recomendara que não recebesse nenhum presente dos deuses. Vendo-lhe a radiante beleza, Epimeteu esqueceu quanto lhe fora dito pelo irmão e a tomou como esposa.



A CAIXA (JARRA) DE PANDORA

Epimeteu tinha em seu poder a Caixa de Pandora que outrora lhe haviam dado os deuses, que continha todos os males. Zeus avisou a mulher que não a abrisse. Dia pós dia, Pandora ficava cada vez mais curiosa, e um certo dia, decidiu que iria abri-la para ver o que havia dentro. Quando a abriu todos os males foram libertados, exceto um, que ali dentro permaneceu: a esperança. E dali em diante, foram os homens afligidos por todos os males.

Hesíodo, o mais antigo poeta grego, conta o mito de Pandora: 'Dela vem a raça das mulheres e do gênero feminino: dela vem a corrida mortal das mulheres que trazem problemas aos homens mortais entre os quais vivem, nunca companheiras na pobreza odiosa, mas apenas na riqueza. Hesíodo segue lamentando que aqueles que tentam evitar o mal das mulheres evitando o casamento não se sairão melhor: Ele chega à velhice mortal sem ninguém para cuidar de seus anos e, embora, pelo menos, não sinta falta de meios de subsistência enquanto ele vive, ainda, quando ele está morto, seus parentes dividem suas posses entre eles. Hesíodo admite que, ocasionalmente, um homem encontra uma mulher boa, mas ainda assim o "mal rivaliza com o bem." Hesíodo reconta o mito diversas vezes em seus escritos, chamando de Pandora a primeira mulher.'

Nesta versão também, por ordem de Zeus, Hefesto molda em barro uma adorável moça, Atena lhe ensina as artes da tecelagem, Afrodite a embeleza, e Hermes lhe dá 'uma mente despudorada e uma natureza enganosa'. As Cárites e as Horas a adornaram, e por fim Hermes lhe deu a voz e um nome, Pandora, porque 'todos os que habitam o Olimpo lhe deram um presente, uma praga para aqueles que comem pão'. E Hermes a leva a Epimeteu, que a recebe. O mal (doenças e trabalho) começa quando Pandora, com sua grande curiosidade, abre o jarro (pithos) (não caixa, esta uma corrupção textual posterior) e pragas incontáveis saem dele. Só a esperança não sai do jarro. Hoje em dia, abrir uma 'Caixa De Pandora' significa criar um mal que não pode ser desfeito.

Pandora e a caixa

É na Ilíada que, no verso 527 e seguintes, se utiliza este termo: na casa de Zeus havia duas jarras, uma contendo os bens, outra contendo os males. Hesíodo não o evoca, anunciando apenas que sem mulher, a vida do homem é impraticável, e com mulher ainda mais impraticável é. Hesíodo classifica Pandora como 'mal belo'. E para o nome 'Pandora' há vários significados: panta dôra, (que tem todos os dons) ou pantôn dôra (que tem dons de todos os deuses).

A razão para a permanência da Esperança entre os males precisa de melhor tradução do texto grego. O termo preciso é em grego antigo definível como a espera de algo; traduz-se muitas vezes por esperança. Uma tradução alternativa será 'antecipação'.

Pandora é simultaneamente a introdutora dos males, mas também da força, da dignidade e da beleza, e a partir da abertura da sua caixa o ser humano não pode melhorar a sua condição sem enfrentar adversidades. Porém Pandora abriu a caixa libertando criaturas até então desconhecidas que com elas traziam a inveja, medo, ódio, ciúme, entre outras!



A HISTÓRIA DE SEMÍRAMIS

Semíramis foi uma rainha mitológica que segundo as lendas gregas e lendas persas reinou sobre a Pérsia, Assíria, Armênia, Arábia, Egito e toda a Ásia, durante mais de 42 anos, foi fundadora da Babilônia e de seus jardins suspensos.

Entre as muitas lendas que a rodeiam, uma afirma que foi filha de uma sacerdotisa que a abandonou à morte no deserto. Pombas a encontraram e a alimentaram até que um pastor de nome Simas a encontrou. Também pode ser identificada como Shammuramat, rainha da Assíria que foi esposa de Shamshi-Adad V e mãe de Adad-nirari III. E é mencionada na Bíblia como Diana dos Efésios (Atos 19). A história de Semíramis foi tema de uma ópera de Gioacchino Rossini, e o escritor espanhol Alejandro Núñez Alonso fez uma série de novelas históricas em torno desta personagem.

De acordo com estudiosos teológicos, Semíramis fora esposa de Ninrode, um dos primeiros homens mais poderosos do mundo (Gênesis 10:8-12), que inaugurou a cidade bíblica de Babel. Segundo a tradição, Ninrode desejava reunir toda a humanidade em torno de si e construir uma torre, ou Zigurate, que chegasse aos céus, com o argumento de ninguém ser tragado por um dilúvio novamente, manterem-se unidos e serem conhecidos por gerações (Gênesis 11:4). Com a grande estatura da torre, conhecida como Torre de Babel, Ninrode tornou-se conhecido como 'príncipe dos céus'. Sobre este homem. Ele ameaçou vingar-se de Deus, se este quisesse novamente inundar a terra; porque construiria uma torre mais alta do que poderia ser atingida pela água e vingaria a destruição dos seus antepassados.

Já Semíramis ficou conhecida como 'rainha dos céus', nome de uma divindade idolatrada no Oriente Médio durante a Idade Antiga. Segundo alguns historiadores e etimólogos, Semíramis em assírio significa pomba amorosa. De acordo com uma lenda, ela não morreu, e sim foi ascendida ao céu em forma de pomba. Subiu ao céu transformada em pomba, após entregar a coroa ao seu filho, Tamuz.

Semíramis é avisada por um mensageiro da revolta dos babilônicos em seu quarto. Episódio retratado por Guecino chamado 'Semiramis Called to Arms'

A Lenda babilônica diz que Semíramis casou-se com Onnes, General de Nimrod. Nimrod impressionado com ela acaba desposando-a e Onnes é morto para que o casamento fosse possível. Nimrod é ferido mortalmente e Semíramis assume seu posto no comando do exército e mais tarde assume o trono. Torna-se assim Rainha de quase toda a Ásia. Além de exercer um bom governo, conquistou a Etiópia, restaurou a Babilônia ao seu antigo esplendor fortificando-a com muros e outras construções. Sua morte é atribuída a seu filho e de Nimrod, Ninyas que almejava o trono. A Lenda Armênia a retrata como uma destruidora de lares e uma prostituta. Semíramis teria se interessado pelo Rei Armênio Ara o Belo, pedindo-o em casamento. Após a recusa, Semíramis reuniu seu exército Assírio e marchou contra a Armênia. Durante a batalha no Vale Ararat, Ara o Belo foi morto. A fim de evitar maiores derramamentos de sangue, Semíramis invocou o título de feiticeira, filha de Deuses, e orou sobre o corpo do Rei Ara para que ele retornasse à vida. Para que os Armênios acreditassem na farsa, ela teria disfarçado um de seus amantes como Ara, espalhando o rumor de sua ressurreição, terminando com a guerra.

Aparece como uma anciã na obra de Eugene Lonesco, além de diversos filmes, teatros e até mesmo nomeando um grupo de rock da década de setenta, e literatura a retrata como um ícone de beleza.



**********


'Escrever sobre os mitos da primeira mulher não é uma tarefa fácil, mas acredito ser uma tarefa bastante interessante. Partindo de um ponto de vista masculino, pensar sobre a mulher e sua criação pode nos levar a diferentes caminhos. É frequente encontrarmos relatos do surgimento da primeira mulher a partir de uma ótica patriarcal, colocando a mulher como uma criatura submissa, que vem depois do homem ter sido criado, como se constata no livro do Gêneses, na Bíblia. Eva é a criatura que nasce da costela de Adão - que é feito à imagem e semelhança de Deus! Eva não é apenas a companheira de Adão, ela é também a primeira a desobedecer as ordens de Deus e comer do fruto proibido, a primeira a carregar em si o pecado original e fazer com que Adão também comesse do fruto.

Há controvérsias a respeito disso, colocando Lilith, uma mulher anterior a Eva, como responsável pelo pecado original. Lilith é o símbolo do feminismo, não se assujeitando perante o homem, que seria um ser especial e mais poderoso. Observa-se que a rebeldia dessa mulher a transforma em um demônio, um castigo por sua rebeldia, por seguir seu desejo (um pouco do que encontramos na lenda da Mula sem cabeça, que é a mulher que assume seu desejo, sua luxúria, desejando o homem proibido - o padre - e como castigo, é transformada em uma mula que vaga pela noite, perdendo sua cabeça e tendo o fogo como substituto). Portanto, constatamos que à mulher é delegado o papel de sedutora, aquela que possui poderes de corromper os homens e manipulá-los, sendo um ser maligno, merece o castigo, não sendo digna de, ou sendo perigosa demais para, estar no mesmo patamar que o homem.

Em um momento de divagação, considerando as lendas das primeiras mulheres contadas em culturas patriarcais pode-se pensar no quanto os homens projetam nas mulheres todo o mal que negam em si, como o bebê, que está à mercê da mãe, que pode satisfazer ou não seus desejos e que projeta nela o que ele não tolera nele mesmo.

Todavia questiono-me como seria a narração do mito da primeira mulher em uma sociedade matriarcal. Como teria nascido a primeira mulher? E o primeiro homem? Inverteriam-se os papéis, sendo o homem então submisso à mulher?

Indagar-se sobre a mulher e sua constituição enquanto ser humano é abrir-se para a possibilidade de compreensão do diferente, é constatar que as relações humanas podem seguir outra ordem, que não necessariamente a ordem do poder ou da busca por ele. Quando há espaço para o diferente, há espaço para o questionamento e a transformação.'

Francisco Morais*


"...eu gosto de ser mulher, que mostra mais o que sente..." (Maria Bethânia em O Lado Quente Do Ser)




Para entender a dinâmica do 'O Teatro Da Vida' visite a página sobre o blog.





____________

* Francisco Morais é psicólogo graduado pela Universidade São Francisco e atua com psicoterapia psicanalítica em contexto clínico em Atibaia, interior de São Paulo. Entre em contato pelo correio eletrônico: chicopsico5@hotmail.com

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...