30 janeiro 2013

Matizes E Texturas: Madona Da Humildade Com Seis Anjos (Agnolo Gaddi)

Por Jonathan Pereira


Agnolo Gaddi (1345-1396), Renascença
Madona Da Humildade Com Seis Anjos (1390), têmpera sobre painel
0,58 x 1,18 cm, Galeria Da Academia, Florença


PINTURA: Madona Da Humildade Com Seis Anjos (Madonna Of Humility With Six Angels)
PINTOR: Agnolo Gaddi
PERÍODO: Início Da Renascença
ESCOLA: Escola Florentina
TÉCNICA: Têmpera
SUPORTE: Painel
DIMENSÕES (LxA): 0,58 x 1,18 cm
CONCEPÇÃO: 1390
LOCAL DE EXPOSIÇÃO: Galeria Da Academia De Belas Artes, Florença, Itália





PINTOR 
Agnolo Gaddi foi um pintor italiano do Trecento, filho de outro pintor, Taddeo Gaddi e neto de outro, Gaddo Gaddi. Começou seus estudos no ateliê de Giovanni da Milano e Jacopo del Casentino. Gaddi viveu em uma época de transição da arte italiana sendo um dos últimos pintores influenciado por Giotto, mas pouco renovou na arte. Foi somente nos últimos anos, com a restauração de muitas de suas obras, que Gaddi começou a ser revalorizado evidenciando dois aspectos: a plena autonomia profissional alcançados e uma estreita colaboração com escultores florentinos para que forneceram os desenhos dos trabalhos a serem executados.Sua obra mais importante são os afrescos no coral da Basílica da Santa Cruz, em Florença, encomendados em 1380 por Jacopo degli Alberti. É uma obra inspirada diretamente na Lenda Áurea de Jacopo de Varazze. No mesmo templo, decorou a Capela Castellani com episódios das vidas de Nicolau de Mira e Antão do Deserto junto com Gherardo Starnina. Em 1392, Agnolo Gaddi viajou até Prato para elaborar os afrescos do Palazzo Datini com Niccolò di Pietro Gerini.





ESCOLA
A chamada escola florentina compreende um grupo de pintores italianos influenciados pelo estilo naturalista desenvolvido da cidade de Florença, na época da arte italiana chamado Trecento. Esses artistas foram amplamente influenciados por Giotto, que, diferente de Duccio e outros artistas da escola sienesa, fundiu elementos da arte bizantina com a arte paleocristã e com a arte romana, distanciando-se assim da chamada maniera greca, que dominava a Itália naquele tempo. A arte mais antiga da Toscana, produzida no século XII, em Pisa e Lucca, formou a base para o desenvolvimento posterior. Nicola Pisano mostrou seu gosto pelas formas clássicas assim como seu filho, Giovanni Pisano, que levou as novas idéias da escultura gótica para o vernáculo toscano, criando figuras de impressionante naturalismo. Essa arte eccou no trabalho de pintores de Pisa nos séculos XII e XIII, principalmente Giunta Pisano, que por sua vez influenciou Cimabue, e através dele, Giotto. A representação pictórica mais antiga de Florença são os mosaicos do interior da cúpula do Battistero di San Giovanni, que foram executados em 1225. Acredita-se que Coppo di Marcovaldo tenha criado a figura central de Cristo, cheia de volume, diferente dos antigos mosaicos bizantinos. Obras similares foram encomendadas para a Basílica de Santa Maria Novella, a Igreja da Santa Trindade e a Igreja de Ognissanti no final do século XIII e começo do século XIV. Duccio e Cimabue criaram também painéis que se afastavam da tradição bizantina. Giotto e Bernardo Daddi podem ter se inspirado nas figuras murais de Roma para a criação de obras que enfatizavam o uso da luz. No final do século XV a Escola Florentina começou a desaparecer, dando lugar ao Renascimento. Um dos últimos artistas da Escola foi Andrea di Cione.





PERÍODO
O Renascimento cultural manifestou-se primeiro na região italiana da Toscana, tendo como principais centros as cidades de Florença e Siena, de onde se difundiu para o resto da península Itálica e depois para praticamente todos os países da Europa Ocidental, impulsionado pelo desenvolvimento da imprensa por Johannes Gutenberg. A Itália permaneceu sempre como o local onde o movimento apresentou maior expressão, porém manifestações renascentistas de grande importância também ocorreram na Inglaterra, Alemanha, Países Baixos e, menos intensamente, em Portugal e Espanha, e em suas colônias americanas. Nas artes o Renascimento se caracterizou, em linhas muito gerais, pela inspiração nos antigos gregos e romanos, e pela concepção de arte como uma imitação da natureza, tendo o homem nesse panorama um lugar privilegiado. Mas mais do que uma imitação, a natureza devia, a fim de ser bem representada, passar por uma tradução que a organizava sob uma óptica racional e matemática, num período marcado por uma matematização de todos os fenômenos naturais. Na pintura a maior conquista da busca por esse "naturalismo organizado" foi a recuperação da perspectiva, representando a paisagem, as arquiteturas e o ser humano através de relações essencialmente geométricas e criando uma eficiente impressão de espaço tridimensional.





TÉCNICA
A têmpera é um método de pintura no qual os pigmentos de terra são misturados a um “colante”, uma emulsão de água e gemas de ovo ou ovos inteiros (às vezes cola ou leite). A têmpera foi largamente utilizada na arte italiana nos séculos XIV e XV, ambos em afrescos ou painéis de madeira preparados com gesso, que foram, posteriormente substituídos pela pintura a óleo. As cores de têmpera são brilhantes e translúcidas. Por ter um tempo de secagem muito rápido, a graduação de tons se torna dificultada. Daí, a técnica utilizada para tal fim, é o acréscimo de pontos ou linhas mais claras ou mais escuras na pintura já seca. Pode-se também trabalhar com o verniz sobre a tinta, realçando o brilho e a cor. Diz-se têmpera forte aquela na qual o pigmento é menos diluído.





FONTE: wikipedia.


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28 janeiro 2013

1001 Filmes +: Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds)

DIREÇÃO: Quentin Tarantino;
ANO: 2009;
GÊNEROS: ação, drama e guerra;
NACIONALIDADE: EUA e Alemanha;
IDIOMA: inglês, alemão, francês e italiano;
ROTEIRO: Quentin Tarantino;
BASEADO EM: ideia de Quentin Tarantino;
PRINCIPAIS ATORES: Brad Pitt (Tenente Aldo Raine); Mélanie Laurent (Shosanna Dreyfus); Christoph Waltz (Coronel Hans Landa); Eli Roth (Sargento Donny Donowitz); Michael Fassbender (Tenente Archie Hicox); Diane Kruger (Bridget von Hammersmark); Daniel Brühl (Fredrick Zoller); Til Schweiger (Sargento Hugo Stiglitz); Gedeon Burkhard (Cabo Wilhelm Wicki); Jacky Ido (Marcel); B.J. Novak (Soldado Smithson Utivich); Omar Doom (Soldado Omar Ulmer); August Diehl (Major Hellstrom); Denis Ménochet (Perrier LaPadite); Sylvester Groth (Joseph Goebbels) e Martin Wuttke (Hitler).




SINOPSE: "Durante a Segunda Guerra, na França ocupada pelo exército alemão, a jovem Shosanna Dreyfus testemunha a execução da família pelo coronel nazista Hans Landa. Porém, ela consegue escapar e passa a viver sob a identidade de uma proprietária de cinema em Paris, enquanto aguarda o momento certo para se vingar. Ainda na Europa, o tenente Aldo Raine organiza um grupo de soldados judeus para lutar contra os nazistas. Conhecido pelo inimigo como "Os Bastardos", o grupo de Aldo recebe uma nova integrante, a atriz alemã e espiã disfarçada Bridget Von Hammersmark, que tem a perigosa missão de chegar até os líderes do Terceiro Reich." (Cineclick)





"Dizer que Tarantino inventou um novo gênero, ainda não nominado, não parece ser exagero, mesmo sendo esse o primeiro filme que assisto de Quentin. Este filme nos faz lembrar do primeiro filme que assistimos para esta seção, 'Agonia E Glória (The Big Red One, Samuel Fuller, 1980)', onde o diretor também usa a comédia e o sarcasmo para aliviar o peso do tema central do filme. Fuller usa a comédia pastelão em seu filme, e a conexão com o tema central não existe, é algo fora de contexto. Ao contrário do sarcasmo, comédia e perspicácia de Tarantino, que o usa de forma incluída no enredo, tornando essa comédia na verdade, um humor negro, invertendo assim o papel da comédia e tornando a brincadeira não necessariamente sinônimo de risos e leveza, pelo contrário. O cuidado com a edição é louvável: som, corte, risada, gritos, tiros, sempre na hora certa. Hans Landa.... Esse é incontestável um dos melhores vilões fictícios surgidos nos últimos anos no cinema. Sua impecável perspicácia, educação, gentileza, sabedoria, inteligência usadas de forma esplendida por Christoph Waltz, fez Tarantino afirmar que foi, sem dúvida, o melhor personagem já escrito por ele. Talvez por ser austríaco, e ter em seu passado o peso do Nazismo enraizado em sua cultura, o seu toque particular ao personagem, a elegância amedrontadora de Landa, fez o diferencial, que Di Caprio, cotado inicialmente para o papel, não poderia ter. Vale ressaltar a participação de Daniel Brühl, ator hispano-alemão que interpreta o soldado herói que mata mais de 150 inimigos e ganha um filme em sua homenagem. Ele também participou com um papel importante em outra história da cultura alemã no filme 'Adeus, Lênin! (Good Bye, Lenin!, Wolfgang Becker, 2003)'. Participar de dois filmes de épocas, direção e temas tão diferentes, mas que abordam dois dos principais fatos mundiais, e principalmente, alemães, é no mínimo curioso. Tarantino coloca em xeque várias verdades existentes em nossa cultura: 'os fins não justificam os meios'; a inteligência, elegância e educação nem sempre são sinônimos de qualidades; fazer parte de uma quadrilha que tem por objetivo matar um determinado grupo e com requintes de crueldade, não podem ser sempre considerados criminosos e mal-feitores ou a espúria da sociedade. Enfim, a reflexão de Tarantino quanto a nossa opinião de fachada, onde apenas uma informação, um lado do fato, geralmente são levados em consideração, e principalmente, onde todas as alternativas não são consideradas e sua opinião acaba sendo formada pelo que a sociedade considera certo e errado, e não necessariamente, é o certo e o errado, é um legado de sua obra. Como eu digo sempre: toda qualidade também é um defeito, e todo defeito também é uma qualidade."

(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Jonathan Pereira





"Demorei um tempo para começar a escrever meu comentário sobre este filme, pois é tão bom, tão intenso e tão cheio de Arte, que as palavras vão limitar a beleza que ele traz consigo, mas vamos tentar. Começarei falando do idealizador e terminarei falando da peça-chave da obra. Assim, Quentin Tarantino é aquele diretor que faz história facilmente, sem forçar nada. É o que destoa do padrão americano, apesar de alguns acreditarem que ele ajudou a modificar o padrão americano. Acredito que realmente sai do padrão, sendo inventivo e corajoso. Imagine um pequeno diretor que recebe convites para filmes hollywoodianos como 'Homens De Preto (Men In Black, 1997)' e 'Velocidade Máxima (Speed, 1994)', garantia de nome emplacado entre os grandes, mas que, por questões muito fortes que ressoam dentro de si, resolve revolucionar o cinema independente – banca sua ideia, como se quisesse dizer: 'sim, podemos ser rentáveis também, nós, os bastardos!'. E assim, seja como diretor de seus filmes, de cenas de outros diretores ou na condução de episódios de séries... tudo se torna sucesso sem limites com este grande homem. Portanto, vejo esta obra como um grande elogio ao cinema, com roteiro originalíssimo incluindo fatos históricos, ficção e a intensidade da paixão dos personagens, que trazem consigo desejos perigosos e missão impossíveis, levando até às últimas consequências a realização do que planejam. Cenários belíssimos, figurino perfeito, montagem criativa e atuações excelentes se juntam para contar uma história sangrenta, violenta mesmo, e que faz o expectador se sentir acuado, com uma arma na cabeça (ou entre as pernas, como mostra uma cena), a todo instante. Talvez tenha sido este o sentimento de quem foi perseguido pela SS, organização paramilitar nazista, na época negra pela qual o mundo passou quando Hitler, o Füher alemão, ampliava seus territórios dominados. E assim o diretor transpôs muito bem este clima para as telas, juntando uma trilha sonora que deixa tudo tocante e chocante. Questões culturais estão presentes no filme, que conta com diversas línguas e mínimos detalhes (como o sotaque ou a forma de se pedir uma bebida), entregando o inimigo infiltrado. Além disso, o filme foi filmado na Alemanha e na França, com atores de várias nacionalidades, sendo o diretor, americano (apesar de não se enquadrar no padrão). Destaco algumas atuações impactantes: Brad Pitt (um Tenente Aldo Raine corajoso e insistente), a francesa judia Mélanie Laurent (Shosanna Dreyfus, a vingadora da história), Diane Kruger (ex-modelo, colocando para fora toda sua beleza e sensualidade ao interpretar a atriz alemã Bridget Von Hammersmark), Daniel Brühl (ator lindíssimo em suas atuações que já fez parte aqui do 'O Teatro Da Vida', quando comentamos um outro filme seu, 'Adeus, Lênin! (Good Bye, Lenin!, Wolfgang Becker, 2003)', interpretando o personagem-chave da trama, o soldado Fredrik Zoller), Martin Wuttke (uma perfeita reprodução de Adolf Hitler, mostrando para nós um grande ator e diretor alemão) e Sylvester Groth (também perfeito reflexo de Joseph Goebbels, homem forte na propaganda do nazismo, braço direito de Hitler, aquele que exerceu controle nas comunicações da Alemanha e convenceu o povo alemão de que a guerra era boa), entre os outros atores todos, formando um elenco afinado e afiado. Agora vou falar da peça-chave do filme, de Christoph Waltz: ator austríaco, provindo de uma família de atores, fluente em vários idiomas (o que mostra com seu personagem), aquele ator que se enquadra tão bem na história que só restam pensamentos como: não poderia ser outra pessoa no seu lugar interpretando este personagem, e que ele é que faz o sucesso do filme, a pedra angular, apesar de todo roteiro e produções e outros atores serem perfeitos. Neste sentido, o Coronel Hans Landa é, certamente, um dos personagens mais fantásticos da história do cinema, idealizado por Quentin Tarantino e colocado nas telas para simbolicamente representar todo um jeito alemão de ser, todo um jeito austero e, ao mesmo tempo, sarcástico e bem-humorado, de ser do povo da Alemanha: um espelho de parte do perfil e da cultura daquele país. Não foi por nada que Waltz viu cair em seu colo prêmios de melhor ator e melhor ator coadjuvante nas maiores premiações do cinema mundial por este papel, por seu empenho nesta empreitada louca que Tarantino lhe propôs. Se o personagem fosse somente aquilo que vimos até se aproximar seu desfecho, um elegante patriota que faz tudo por sua nação, já teria todos os méritos. Mas ainda nos deparamos com a surpresa final de que ele pode ser mais, pode ser ele mesmo, traz consigo uma missão individual e tem planos além do que lhe foram propostos. É lindo! Um personagem 'do mal' por quem é fácil de se apaixonar, mesmo quando mostra toda sua falta de afeto sendo um 'caçador de judeus' que com humor afiado mata fazendo terror psicológico em suas vítimas – e em nós, espectadores. Enfim, um diretor corajoso e ousado, que mostra o quanto o cinema não pode ter limites e uma trama de forte impacto psicológico colocando temas de vida das pessoas, como a vingança ou a busca de determinado ideal, conduzindo toda uma existência pessoal e coletiva. Ah, uma dica: o diretor aparece no filme, tente achá-lo."

(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Kleber Godoy





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23 janeiro 2013

Mais Saúde + Você: Acupuntura E O Conhecimento Milenar Chinês

Por Kleber Godoy

Nesta seção, como já destacamos no post explicativo sobre seus objetivos, o assunto é sério: saúde. Um tema abrangente, que envolve diversas ciências e, principalmente, a vida de cada um de nós. Assim, buscando criar um espaço para pensar o que podemos fazer para contribuir neste quesito, a cada postagem um tema diferente é lançado aqui: hoje falarei sobre um assunto que tenho estudado e praticado, junto e separado, de minha atuação como psicoterapeuta. Vou falar sobre a Acupuntura, conhecimento muito falado, mas pouco compreendido entre as pessoas que não estudam o assunto. Segue um texto escrito por mim lançando as bases e os conceitos principais deste grande Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade, sem aprofundar, mas pretendendo informar e esclarecer alguns pontos.



"Uma longa viagem começa com um único passo." (Lao-Tsé)





**********

Para falar de Acupuntura é preciso introduzir um pouco de Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e de características básicas do pensamento chinês, bases do nosso assunto principal. Assim, a Acupuntura se constitui um dos campos de atuação de algo maior, a MTC, que é, em diversos pontos, diferente da medicina a que estamos acostumados no ocidente e que se baseia em conceitos que fazem parte da cultura chinesa, do modo de vida de um povo que transmite, de geração para geração, conhecimentos acumulados e mantidos pela tradição há mais de cinco mil anos. Neste sentido, o Taoismo faz parte das bases deste conhecimento milenar, muitas vezes confundido com uma religião, mas sendo, na verdade, um modo de viver, uma filosofia, um pensamento, um conjunto de conhecimentos milenares do povo chinês, influenciando a forma de governar, a forma de organizar a sociedade e a forma de se fazer saúde. O Tao seria, assim, o caminho, o caminhar e o caminhante, algo imaterial que promove a circulação de energias em nosso corpo e engloba não só o homem, mas a natureza e seus movimentos.

Assim, o pensamento chinês vê o homem em conexão profunda com a natureza e com as estações do ano, com os movimentos da natureza: há o tempo de plantar, há o tempo de colher, assim como o poder do vento, do frio, do calor... e uma mútua influencia destes movimentos todos em nosso corpo e na circulação das energias no corpo. Estes movimentos presentes também nos seres vivos, equilibram-se e desequilibram-se segundo o modo como vivemos, nos protegemos, nos expomos, nos cuidamos ou nos abandonamos.

No Su Wen, livro clássico chinês de medicina, e talvez, o mais antigo livro de medicina do mundo, há a seguinte passagem: "Os três primeiros meses da Primavera chamam-se o período do princípio e do desenvolvimento da vida. As exalações do céu e da terra estão preparadas para gerar; assim tudo se desenvolve e floresce. Os três meses de verão chamam-se o período do crescimento luxuriante. As exalações do céu e da terra misturam-se e são benéficas. Está tudo em flor e começa a dar frutos. Os três meses de outono chamam-se período de tranquilidade da nossa conduta, a atmosfera do céu é intensa e a atmosfera da terra é desanuviada. Os três meses do inverno chamam-se o período de fechar e armazenar. A água gela e a terra estala e abre fendas."

Assim é o modo de viver chinês, no qual o imperador governa segundo as leis da natureza, respeitando épocas em que se deve colher, em que se deve plantar, em que deve esperar mantendo os celeiros quando chegar a época de seca, etc. Além disso, também é o modo de viver diariamente, havendo um tempo para o trabalho, um tempo para o descanso, um tempo onde a natureza proporciona maior crescimento e outro em que se deve armazenar energia. Assim é o método de tratamento na medicina, respeitando os movimentos do corpo.

Tai Chi: Yin e Yang

Entender o modo de viver do chinês tradicional é entender o pensamento chinês, no qual não existem os conceitos, as concretudes, as dualidades e os princípios científicos ocidentais a que estamos acostumados. Assim, a medicina chinesa trabalha com a Acupuntura, a Fitoterapia, Dietoterapia, técnicas de massagem, entre outras formas de atuação para promover a saúde e prevenir as doenças, pautadas no conhecimento obtido através dos milênios. Neste campo existe o simbolismo do Yin e do Yang, cujo símbolo é bem difundido no ocidente, mas sem trazer o significado abrangente que tem para o taoismo. Logo, Yin e Yang são movimentos que se alternam e completam, com características não opostas, mas complementares, sendo que Yin está dentro de Yang e Yang está dentro de Yin, cada um com seu movimento próprio, um de maior expansão e outro de maior recolhimento, mas sempre buscando um ao outro – ou seja, o equilíbrio. Talvez seja difícil compreender este pensamento, mas os sábios chineses da antiguidade mostram na prática com sua forma de viver e de fazer saúde como isso se dá no cotidiano. Um exemplo prático: Lao-Tsé (pensador da China antiga), por exemplo, coloca em uma passagem que "a felicidade nasce da infelicidade; a infelicidade está escondida no seio da felicidade."

Assim, a noção é a de que no corpo humano há canais de energia, chamados de meridianos, por onde circulam energias que, em equilíbrio e harmonia, promovem a saúde no corpo e na mente. Nestes trajetos existem pontos, os pontos de Acupuntura. Logo, quando há desarmonia na circulação das mesmas, aparecem as patologias e os transtornos. Através das finas agulhas e das técnicas de inserção das mesmas nos pontos de Acupuntura promove-se a melhor circulação de energia corporal. Os desequilíbrios acontecem quando uma determinada função do corpo contém excesso ou insuficiência de energia, sendo possível, através da Acupuntura, levar energia para os pontos onde está insuficiente e retirar de onde há excesso.

O profissional qualificado para tal atuação deve conhecer bem o pensamento chinês e técnicas como a medição do pulso, que permitem conhecer como está internalizado no paciente o trânsito das energias. Vale ressaltar a importância do paciente sentir no profissional alguém capacitado e com quem possa estabelecer uma relação terapêutica de confiança e atitudes positivas, fortalecendo o vínculo e a eficácia do tratamento. E, ao longo da vida vamos nos equilibrando e desequilibrando segundo os estímulos internos e externos, sendo possível utilizar-se da Acupuntura como forma de promoção da saúde e prevenção de doenças.

Hoje em dia o mundo está cada vez mais aberto aos ensinamentos chineses, e através da França o ocidente pôde tomar cada vez maior contato com este conhecimento amplo e eficaz de arte do saber fazer e do saber viver chinês. No Brasil temos grande representatividade através de diversas escolas e entidades, entre as quais destaco as que faço parte, a Associação Brasileira de Acupuntura (ABA) e o Instituto Brasileiro de Acupuntura e Psicologia (IBAHO), que promovem cursos por todo Brasil.

Há certa tendência, para o ocidente, de pensar nas técnicas orientais como algo místico ou religioso, mas são apenas formas de atuação diferentes das quais estamos acostumados, com nossa ciência tradicional. Neste sentido, o ocidente tem a tendência a pegar conceitos do oriente e transformar em misticismo, como exemplo o uso do livro do I Ching, parte da sabedoria chinesa, transformando-o em um jogo de sorte ou azar para prever o futuro. A Acupuntura, diferente do que muita gente acha, não depende de fé, funciona sem precisar de credibilidade do paciente, não sendo parte de um campo místico, é uma ciência baseada no pensamento chinês. 


A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 2010, incluiu a Acupuntura como Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade, destacando-a como um dos principais aspectos no campo da Medicina Tradicional Chinesa, não estando restrita somente na China, já que se encontra presente e cada vez mais difundida pelo mundo todo, mostrando seus benefícios e conseguindo ultrapassar as barreiras culturais e geográficas. A UNESCO reconhece "o fato de ela ser uma competência passada de geração para geração através dos milênios". Esta inclusão pretende "preservar, proteger, promover e valorizar sua prática". No Brasil, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) recentemente, e antes disso, o então atual presidente Lula também enfatizaram a importância da Acupuntura e sua promoção, assim como sua importância como prática integrativa junto a outros saberes da área da saúde.

Diversas categorias profissionais em nosso país reconhecem as práticas chinesas como importantes para o trabalho dos seus profissionais. Neste sentido, o Conselho Federal de Psicologia (CFP), em Resolução de 2002 reconheceu a prática da Acupuntura como importante e possível para complementar o trabalho do psicólogo. Resumindo: a Acupuntura pode ser praticada por outros profissionais, além de médicos (coisa que pouca gente sabe), desde que seja por um profissional devidamente qualificado para tal e que atue com ética. Os conhecimentos da MTC não poderiam ficar restritos ao saber médico ocidental ou a qualquer outro saber do gênero, pois são práticas com bases filosóficas e culturais diferentes.

Concluindo, acredito que se deve haver cada vez maior abertura para os ensinamentos orientais, sendo que a medicina preventiva apresentada pela Acupuntura é essencial em uma época de tantos questionamentos e falta de respostas sobre as dificuldades encontradas hoje em dia na área da saúde. Destaco que a conversa entre a medicina ocidental e a oriental pode trazer inúmeros benefícios para o conhecimento humano e para a evolução da humanidade, sendo que uma forma de pensar não exclui a outra. Outra característica, cada vez mais premente, trazida subliminarmente pelo pensamento chinês é a urgência da comunhão do ser humano com a natureza e o respeito a toda forma de vida e ao nosso planeta – o que estamos fazendo com todo este poder que temos sobre a natureza?





**********

"O homem tem três caminhos para agir sabiamente: o primeiro, a meditação, é o mais nobre; o segundo é a imitação, o caminho mais fácil; o terceiro é a experiência - esse é o mais amargo." (Confúcio)


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* Kleber Godoy é graduado em Psicologia pela Universidade São Francisco e pós-graduando em Acupuntura Tradicional Chinesa pela Faculdade Einstein em parceria com a Associação Brasileira de Acupuntura e o Instituto Brasileiro de Acupuntura e Psicologia. Atualmente trabalha com Psicoterapia Psicanalítica, Psicoterapia De Grupo, Orientação Profissional e Acupuntura nas cidades paulistas de Piracaia e São Paulo. Entre em contato pelo correio eletrônico: kleberxgodoy@gmail.com

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20 janeiro 2013

1001 Filmes: Banzé No Oeste (Blazing Saddles)

DIREÇÃO: Mel Brooks;
ANO: 1974;
GÊNEROS: comédia, faroeste;
NACIONALIDADE: EUA;
IDIOMA: inglês;
BASEADO EM: história de Andrew Bergman;
PRINCIPAIS ATORES: Cleavon Little (Bart); Gene Wilder (Jim); Slim Pickens (Taggart); Harvey Korman (Hedley Lamarr); Madeline Kahn (Lili Von Shtupp); Mel Brooks (Governador William J. Lepetomane / Chefe Indígena); Burton Gilliam (Lyle); Alex Karras (Mongo); David Huddleston (Olson Johnson); Liam Dunn (Rev. Johnson); John Hillerman (Howard Johnson); George Furth (Van Johnson).




SINOPSE: "Numa cidadezinha do Oeste onde todos se chamam Johnson, a população é aterrorizada por bandidos liderados pelo malvado Hedley Lamarr, que sabe que as terras irão valer muito dinheiro com a passagem da ferrovia. O governador William envia um novo xerife para controlar a situação, o ex-ferroviário Bart. Bart é negro e é hostilizado pela população racista mas recebe ajuda do pistoleiro bêbado mas rápido no gatilho, The Waco Kid." (wikipedia)





"O lendário diretor de sátiras não poderia deixar passar batido o gênero faroeste, aquele que pode ser considerado o mais verdadeiro enredo estadunidense. E brincar com isso não é fácil, além de ser muito arriscado. Mas Brooks tentou, e conseguiu. E não se contentou em satirizar o velho oeste, ainda misturou a trama o preconceito racial, conseguindo fazer do filme, mesmo que sem querer, um aliado a quebra desse preconceito. Também abordou, com menos enfoque, a questão do machismo e do preconceito de gênero, numa terra onde podem brincar com tudo, seja com o poderio dos brancos sobre os negros seja pela cultura local, mas falar de homossexualismo ou feminismo, já é considerado uma afronta, uma desrespeito. Mas como disse Mongo: 'Mongo apenas joguete no teatro da vida', não cabe aqui para o enredo e a coragem do diretor."

(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Jonathan Pereira





"Para entender a que gênero pertence este filme tem que se entender que o diretor, Mel Brooks, admira paródias de situações de outros filmes, gosta de colocar um pouco de riso no drama. Neste filme ele faz paródia do faroeste, criando, de certa forma, um gênero: faroeste cômico. No meio disso tudo coloca alguns temas que fazem rir e polemizam, como um xerife negro cuidando da segurança da pequena cidade do oeste, dando margem à reflexões acerca do preconceito racial, ainda mais para a época em que foi filmado. Mas mais do que isso, acredito que ele pretendia mesmo era somente fazer rir, trazendo a reflexão de carona. Para o meu gosto o filme não é tão interessante, mas vai ficando cada vez melhor ao se aproximar do final e fica melhor ainda entendendo o que pretende o diretor com esta obra: faroeste ou comédia? Nenhuma das duas e, ao mesmo tempo, ambos. Vale ressaltar as ótimas interpretações: Cleavon Jake Little, o protagonista negro. Gene Wilder (A Fantástica Fábrica de Chocolate, Willy Wonka And The Chocolate Factory, Mel Stuart, 1971) como o gatilho mais rápido do oeste e Harvey Herschel Korman, o vilão da história. Ah, o diretor também participa como ator, um governador muito louco."

(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Kleber Godoy





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16 janeiro 2013

Dois Pontos: A Lição



A Lição

As sandálias do discípulo ressoavam surdamente nos degraus de pedra que levavam aos porões do velho mosteiro. Empurrou a pesada porta de madeira que cerrava os aposentos do ancião e custou a localizá-lo na densa penumbra, o rosto velado por um capuz, sentado atrás de enorme escrivaninha onde, apesar do escuro, fazia anotações num grande livro, tão velho quanto ele.

E o discípulo o inquiriu:

- Mestre, qual o sentido da vida?

O idoso monge, permanecendo em silêncio, apenas apontou um pedaço de pano, um trapo grosseiro no chão junto à parede e logo após, seu indicador ossudo e encarquilhado mostrou logo acima, no alto do aposento o vidro da janela, opaco sob décadas de poeira e teias de aranha.

O discípulo pegou o pano e subindo em algumas prateleiras de uma pesada estante forrada de livros conseguiu alcançar a vidraça, começando então a esfregá-la com vigor, retirando a sujeira que impedia sua transparência. O sol inundou o aposento, banhando com sua luz estranhos objetos, instrumentos raros e dezenas de papiros e pergaminhos com misteriosas anotações e signos cabalísticos.

O discípulo, sem caber em si de contentamento, a fisionomia denotando o brilho da satisfação declarou:

- Entendi, mestre. Devemos nos livrar de tudo que obste nosso aprendizado; buscar retirar o pó dos preconceitos e as teias das opiniões que impedem que a luz do conhecimento nos atinja e só então poderemos enxergar as coisas com mais nitidez, partindo então para a evolução.

E assim, o jovem discípulo fez uma reverência deixou o aposento, agora iluminado, a fim de dividir com os outros a lição recém aprendida. O velho monge, o rosto enrugado ainda encoberto pelo largo capuz, os raios do sol da manhã agora banhando-o com uma claridade a que se desacostumara, viu o discípulo se afastando e deixou escapar um tênue sorriso.

- Mais importante do que aquilo que alguém mostra é o que o outro enxerga... pensou ele.

E murmurando baixinho:

- Eu só queria que ele colocasse o pano no lugar de onde caiu.

Autor Desconhecido


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13 janeiro 2013

1001 Filmes: Malhas Da Tarde (Meshes Of The Afternoon)

DIREÇÃO: Maya Deren e Alexander Hammid;
ANO: 1943;
GÊNEROS: Curta, Vanguarda e Experimental;
NACIONALIDADE: EUA;
IDIOMA: mudo;
ROTEIRO: Maya Deren;
BASEADO EM: ideia de Maya Deren;
PRINCIPAIS ATORES: Maya Deren (A Mulher) e Alexander Hammid (O Homem).




SINOPSE: "Maya Deren é uma mulher aprisionada dentro de casa, sufocada pelo cotidiano doméstico. Ela é atormentada por múltiplas visões, se despedaça em diferentes personalidades, e não consegue diferenciar muito bem, enquanto cochila, o sonho da realidade. Seu olhar para por longos segundos em qualquer objeto doméstico: uma faca em cima do pão, a porta destrancada, o telefone fora do gancho." (Adoro Cinema)


"É um filme bastante perturbador, angustiante, que incomoda e causa medo, mesmo tendo raros momentos de leveza com a dança da personagem principal, ou poderia dizer, da atriz que a interpreta, uma vez que a história retratada foi um recorte da própria vida da atriz. O jogo de câmeras dá uma agilidade incomum para um filme dessa época, assim como, a sobreposição de várias imagens da mesma atriz em movimento, com uma qualidade bem a frente do seu tempo. Também há de se ressaltar a utilização da câmera lenta meticulosamente encaixada a sequência do filme. Apesar da música ter sido acrescida ao filme somente 10 anos depois, se encaixa perfeitamente à trama, deixando ainda mais afloradas as sensações já citadas."

(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Jonathan Pereira





"A vida tem encontros interessantes. Neste caso, Alexander Hammid, fotógrafo tcheco, e Maya Deren, cineasta, coreógrafa, dançarina, poeta, escritora e fotógrafa, nascida na Ucrânia. Ambos fugidos de seus países por motivos similares em época de guerra, se encontrando e se tornando vanguardistas no cinema americano. Neste curta de 1943 é mostrado as malhas que tecem a vida, que aprisionam ou libertam. Adrian Martin, crítico de cinema australiano diz que Maya queria mostrar a questão feminina e o aprisionamento da mulher, talvez querendo destacar questões únicas de uma época em que o poder masculino predominava. Para a atualidade vale a pena pensar sobre esta questão de diversos ângulos, refletindo em como o confinamento das pessoas, dentro delas mesmas, pode provocar a loucura e a perda da saúde mental ou física: uma desfragmentação do ser. O filme é curto e fantástico, envolto por um clima noir, com medo, pulsão de morte, pesadelos e itens simbólicos como uma escada, uma chave, a mulher e o homem... gerando múltiplas interpretações da combinação entre eles. Enfim, com estilo único e mesmo morrendo jovem, o trabalho de Maya é estudado nas principais escolas de cinema do mundo, deixou grandes obras para a humanidade."

(1: Ruim; 2: Regular; 3: Bom; 4: Ótimo; 5: Excelente)
Kleber Godoy





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